14/03/2017

Tudo bem, foi só mais um estupro!

     Ela lembra de estar feliz. Acordou cedo, tomou banho cantarolando. Ela lembra que enquanto andava da sua casa até o ponto de ônibus, estava feliz. Lembra que admirou o céu. Enquanto olhava aquela caixa da água antiga em formato estranho, imaginou se as crianças daquela época, antes mesmo da rua ser pavimentada, fingiam que aquilo era uma nave marciana. Tudo estava perfeito, o dia estava lindo! Mas antes do ônibus chegar... chegou um porco ao ponto.


    Quando ele a agarrou naquela rua quase deserta às cinco e pouco da manhã, a garota feliz, valente e corajosa sumiu. Mal sabia ela quando acordou aquela manhã, que sua inocência seria roubada da forma mais cruel possível. Ela não conseguiu reagir. Como poderia? O pânico a dominou. Tudo que ela se lembra é que acordou ali, suja. Suja não, imunda! Imunda por dentro, violentada e suja por fora, suja de terra, suja de sangue. Nenhum banho iria resolver seu problema. Ela queria ter gritado, ter  fugido, mas o pânico, o pânico não deixou. Quer saber? Tudo bem! Foi só mais um estupro mesmo, nunca vai ser você, nunca vai ser sua mãe, nunca vai ser sua filha, até o pânico chegar e só deixar no lugar uma memória ruim e um feto pra abortar.



Ind Albrech 

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