01/07/2018

Tudo No Olhar




Era um anel simples.

E, sabe... Talvez a simplicidade das coisas transpareça melhor nos sentimos sinceros.

Mas foi tudo natural, como se eu o tivesse conhecido há anos. Um segundo, uma palavra, e um turbilhão de sentimentos passados em um único olhar. Para que as palavras? Se o coração diz com gestos de amor e de carinho.
Fazemos planos, desiludimos a tristeza, e de todas as vezes que as brigas e as discórdias bateram na porta, dissemos que não tinha ninguém em casa. É preciso enfrentar nossos dragões – dizia-me ele, olhando meus olhos com um sorriso de afeto. Um abraço, vários batimentos no peito, olhos fechados enxergando a esperança que o mundo – nem que seja de uma pessoa só – pode ser bom.

E celebramos a rotina, rotina de inventar qualquer coisa nova para o hoje. Reinventar... – é, somos nós que decidimos nossos caminhos. Dançamos na chuva, caminhamos por trilhas, discutimos sobre como foi o nosso dia, fazemos as contas de como fazer o dinheiro dar para o mês – temos que vender sua mãe, amor, não tem jeito – brincava, quando tudo estava dando errado. Errado? Talvez “incerto”, pois o errado pelo ângulo em que você o encara, é o ponto do recomeço.

Assistimos o pôr do Sol aquele dia. Sua mão por cima do meu ombro, o grito do silêncio em sussurro no pé do ouvido, o leve sopro da brisa que acariciava a nossa pele. Um beijo na testa, o calor do amor que fumegava no frio do crepúsculo.

Uma poeira que se levanta. A cômoda enfeitada. O pano que ia e vinha deslizando sobre a madeira negra com certa habili... Um brinco foi para o chão. Se abaixa. Se cata. Se depara. Não é só um brinco, mas uma carta. Uma carta. Dados de um exame. Hospital. Câncer em último estágio, ele estava me deixando.

 – Por quê? Acha justo me deixar assim? E os nossos planos? E tudo que vivemos? Não são as fotos que me trará sua companhia, não posso viver aqui neste mundo sozinha! E o que farei sem você? O que farei sem teu amor? – as lágrimas despencaram como numa cascata, o sentimento de vazio é tão cruel.

E na cama fui deixada. Naquele dia, sem despedidas ao certo, o corpo frio não aquecia mais com a chama da saudade. O funeral foi triste. Mas a dor mesmo se sente depois que todos se vão. Aí fica você e a mais pura solidão. Depressão. Não há motivos para seguir, principalmente quando do outro lado da cabeceira da mesa meus olhos não miram em você, quando no sofá não tem ninguém futricando no controle, quando nas contas do fim do mês não tem ninguém para me dizer que “vai dar certo”. Porque eu sei que não vai dar. Sem você aqui, não dá. Há solidão, a tristeza bateu na porta e eu a deixei entrar.

O tempo passa. As dores... Nem sempre. As bebidas não substituem o seu abraço e o conforto de estar ao teu lado. Poxa, Vida, a distância entre a felicidade e a tristeza é dada por quanto quem nós amamos se afasta de nós.


por J. Michael P.
crédito de imagem: freeimages.com

2 comentários:

  1. Muito obrigado! Ficamos imensamente felizes ao saber que vocês leitores gostam dos nossos "attormentos".. digo, textos..

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