E ela chegou em casa, cansada de mais um dia no trabalho, de
mais um patrão idiota, de mais um tagarela que só queria atenção mesmo.
Fechou a porta, escorou nela por um segundo e vislumbrou
dali a cozinha. Embora escura, a cozer estava arrumadíssima, com um jantar a
luz de velas impecável. Logo o cheiro bom de comida entrou em suas narinas – tá
legal que demorou mais de dois minutos uma vez que a poluição do dia inteiro
trafegava por ali.
As luzes das duas velas distantes uma da outra em harmonia
deixava ver o seu prato favorito – lasanha! – e duas taças ainda vazias. Havia
vinho, bombons, uma música romântica ao fundo, pratos e talheres opostos. Que
romântico! Nunca pensava assistir uma cena daquelas.
Ali mesmo ela largou a bolsa, tirou os sapatos de salto que
apertavam seus pés (diminuiu uns 5 cm, talvez mais), o piso fresco, o coração
disparado, a cena romântica... Seria hoje!!!
E ela se aproximou da cozinha. As velas a queimar, a comida,
o vinho, o chocolate (chocolateeee!!!), o buquê de flores...! e um cartão.
Certamente um cartão escrito à mão com palavras românticas e tal. Ela abriu. O
esmalte vermelho nas unhas grandes – que aliás, poderiam ser maiores se não
fosse os malditos ataques de ansiedade – articularam-se para abrir o cartão.
“O serviço de jantares românticos deseja a você um bom
jantar!”
E foi aí que ela lembrou que não tinha nenhum namorado,
caso, ficante, marido, amigo, ou até mesmo um cachorro! Lembrou que não estava pegando nem resfriado! Ela mesma tinha
contratado o serviço romântico.
“Conta a pagar: R$500”
– Put* q** par*u! – disse ela, de saco cheio dessa vida ingrata.
por J. Michael P.
Crédito de imagem: Hdido Dgs
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