Ah... Não acredito que eu seja boa em coisa alguma. Duvido muito de mim mesma. E é até mais do que natural, já me acostumei, entende? Acostumei a não me dar por satisfeita com minhas próprias conquistas diárias, sabe, aquelas pequenas, do tipo, não falar nenhuma bobagem para não magoar ninguém ou ir até a cozinha sem sair derrubando a casa toda.
É que dói, sabe? Não se sentir boa o bastante. Pra nada, pra ninguém. Ter esse estigma que todos são melhores do que eu, que até quando aparece um elogio perdido por aqui, dentro de mim, minha principal resposta é que é tudo aquilo é mentira. Mentira deslavada! Porque sei que não sou boa o bastante. Não sou inteligente, muito menos bonita. Sou tão desastrada, que vou tropeçando nos meus próprios caminhos.
E aquela vaga de emprego? Não consegui... pra falar a verdade mesmo, nem tentei. Eram muitos candidatos com currículos gigantes que passar mais uma humilhação seria entediante. E o namoro? Acho que ele... o que não é difícil, achou alguém melhor do que eu. E é até bom que seja assim, afinal, ele era demais pra mim. E os amigos? Eles estão programando alguma coisa nesse fim de semana. Não me chamaram, mas de qualquer modo vou poupa-los da minha presença sem graça pra eles. E a faculdade? Até que vai mais ou menos, sou regular, embora eu ache que não sei mais o que faço da minha vida. Está um desastre.
Se é um problema, eu não sei, é mais forte do que eu pensar assim. E esses rastros do fracasso que me acompanham, e essa falta de coragem para lutar mais por mim, e essas situações que me acusam o que já sei me deixam paralisada. E meu amor próprio, onde está? Onde está também os motivos de eu lutar? Está horrível isso, entendeu? E como não bastasse esses pensamentos de fracasso pessoal, é ver que todas as situações me mostram que esses mesmos pensamentos são verdade. É perceber que realmente tudo que faço é um lixo, nunca serei boa o bastante pra nada, nem pra ser feliz.
por. J. Michael P.
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