Desde
que eu me entendo por gente moro ao lado desse cemitério. Recebo cordialmente
meus vizinhos recém-chegados diariamente. Um tanto abatido eu ficava a cada
soluço e lágrima de dor cantarolada em meia a mais bela melodia tocada pelo
violinista que acompanhava as cerimônias, confesso. Mas já acostumei.
Tempos
perdidos que não voltam mais, lembranças encontradas no fundo do coração. Minha
moradia é a rua, e o cemitério está em cada casa, apartamento ou pessoa que
cruzam o meu caminho. Estamos sendo mortos, embora ainda caminhamos vivos...
Nesse
mundo percebo que somos obrigados a estarem “bem” diariamente, 365 dias no ano,
mesmo que apenas de “fachada”. Noto que todas as coisas boas e tudo mais que
fariam as pessoas bem estão morrendo. Oh, Tempo! É você quem está matando os
sorrisos no rosto, os abraços apertados e as palavras de afeto? Meu bom dia
fora assassinato, amanhã, de infarto morrerá o eu te amo?
Tento
encontrar no Google qualquer vestígio de atenção que eu deparava quando saía com
os meus velhos amigos (ainda não achei), mas suponho que foram levados pelo
aparelho celular. Vivo a acreditar que a confiança e a fé no ser humano podem
ter sobrevivido em algum lugar distante. Se bem que... o violonista anuncia um
novo vizinho.
por J. Michael P.
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