06/04/2017

Walking dead (Mortos Que Caminham)






Desde que eu me entendo por gente moro ao lado desse cemitério. Recebo cordialmente meus vizinhos recém-chegados diariamente. Um tanto abatido eu ficava a cada soluço e lágrima de dor cantarolada em meia a mais bela melodia tocada pelo violinista que acompanhava as cerimônias, confesso. Mas já acostumei.

Tempos perdidos que não voltam mais, lembranças encontradas no fundo do coração. Minha moradia é a rua, e o cemitério está em cada casa, apartamento ou pessoa que cruzam o meu caminho. Estamos sendo mortos, embora ainda caminhamos vivos...

Nesse mundo percebo que somos obrigados a estarem “bem” diariamente, 365 dias no ano, mesmo que apenas de “fachada”. Noto que todas as coisas boas e tudo mais que fariam as pessoas bem estão morrendo. Oh, Tempo! É você quem está matando os sorrisos no rosto, os abraços apertados e as palavras de afeto? Meu bom dia fora assassinato, amanhã, de infarto morrerá o eu te amo?
 
Tento encontrar no Google qualquer vestígio de atenção que eu deparava quando saía com os meus velhos amigos (ainda não achei), mas suponho que foram levados pelo aparelho celular. Vivo a acreditar que a confiança e a fé no ser humano podem ter sobrevivido em algum lugar distante. Se bem que... o violonista anuncia um novo vizinho.

por J. Michael P. 

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